Salve o Sat´s!

Por Fred Soares (@fredaosoares)

Jamais pensei em estudar neurociência na minha já longa vida. Portanto, desculpem-me se, porventura, escrever alguma besteira nas próximas linhas. Vamos lá: as memórias da nossa existência são determinadas por reminiscências visuais, auditivas e gustativas. Ou mesmo um conjunto destes três sentidos.

As gustativas, obviamente, remetem à comida, uma das minhas paixões. Cresci em Copacabana, bairro de boêmia, onde a fome costumeiramente se mata com sanduíches ou petiscos - sem contar o chope (menos pra mim que sou um boêmio que não bebe) . E, sem dúvida, no TOP 3 dos cantos cujas iguarias acarinharam o meu paladar e conquistaram o meu coração está o bom e velho Galeto Sat´s.

Se eu tiver que apontar três quitutes que marcaram a minha infância, não tenho medo de errar: o pão de queijo da Fornalha, o sanduíche de filé do Cervantes e o coraçãozinho de galinha do Sat´s. Só de lembrar, as papilas gustativas já vibram aqui.

Serjão, o dono do pedaço em Copacabana

Confesso que o meu xodó sempre foi o sanduba do Cervantes - influência da minha mãe, que era absolutamente encantada pela combinação com carne assada e salpicão de presunto.

Mas em 2010, essa história ganhou um capítulo novo e fundamental. Para não ser fechado, o Sat´s foi comprado por um de seus mais fiéis clientes: o Sérgio Rabello ou, para os amigos, o Serjão. Foi ali que o conheci. O sorriso, a simpatia, o chapeuzinho na cabeça (eis aí uma sintonia!).

Por causa do Serjão, ir ao Sat´s virou rotina quase diária. Dele e, depois, da Elaine e do Raoni, mulher e filho do velho boêmio, figuras a quem se vê à distância se tratar de grandes cariocas.

As visitas ao bar quase que invariavelmente eram no meio da madrugada. Sob a brisa da noite, a resenha ia longe. Algumas vezes, percebia o céu mudar de cor e vinha aquela sensação de que o sono tinha ido pro espaço. A calçada em frente ao boteco era palco do surgimento de novas amizades (beijo, Pitty!) e de alguns exercícios de donjuanismo. Dormir pra quê? Comida, companhia e papo no mais alto nível. Não perdia ali uma noite de sono. Ganhava horas de uma experiência notável, da qual me recordo muito felizmente até hoje.

Já velho, eu meio que abandonei o músculo cardíaco dos galináceos. Abracei uma combinação tão encantadora quanto: a porção de filé acompanhado por polenta com molho de mostarda misturado com maionese. A comida era a cereja daquele bolo de acolhimento, amizade e carioquice em sua máxima instância.

E lá se vão pelo menos 40 anos nessa vibe. Por isso, senti-me também um pouquinho homenageado quando vi o nosso velho Sat´s conquistar o reconhecimento da Prefeitura do Rio de Janeiro e receber o título (e a respectiva plaquinha) de Patrimômio Cultural Carioca.

Justo, justíssimo. A vida é feita de deferências. E esta enfim chegou. A nossa, a de centenas, talvez a de milhares de clientes, já chega diariamente, quando encostamos a barriga no balcão e pedimos ao Dedinho (o "dono" da churrasqueira): "Sai um chope aí!".

Eu (no centro), com os amigos Serjão e Raoni