O bardo carioca e a volta do charme dos coretos da zona norte

Por Fred Soares

Na cultura celta, o bardo era o encarregado de transmitir histórias, mitos e lendas para o povo. Muitos eram poetas que, em praça pública, declamavam os acontecimentos épicos e os heróis de uma determinada comunidade. O Rio de Janeiro tem o seu bardo, aquele que, em espaços populares, narra e revive nossos malandros e heróis: o professor e historiador Luiz Antônio Simas.

Já faz um tempinho que ele tornou corriqueira a prática daquilo que batizou de “aulas abertas”. Só que agora a coisa vai ficar ainda maior. As palestras, que antes só aconteciam nas portas de biroscas, agora terão como cenário um dos símbolos de um Rio de Janeiro mais romântico: os coretos.

Coretos - A História nas Ruas

A partir deste domingo, 16 de abril, o escritor brindará o povo da Zona Norte com histórias que nos remontam a um subúrbio pujante, energético e feliz. Que ainda está lá, pois esta é a essência. Mas que anda meio escondido pelo natural processo de urbanização da cidade. Esta é a proposta do projeto “Coretos – a História nas Ruas”, da Secretaria de Cultura do Rio. O primeiro capítulo dessa história será no bairro de Quintino, no coreto da Praça Quintino Bocaiúva, em frente à estação de trem, lugar tipicamente suburbano.


E sabem sobre quem Simas vai falar? Jorge, o santo gerado na Inglaterra mas que virou carioca nas terras de Santa Cruz. “Jorge, um carioca” é o título da aula que mostrará essa relação de carinho fraternal que se estabeleceu entre o Guerreiro e a população do Rio. Em tempo: fica exatamente em Quintino a igreja-matriz dedicada ao santo em solo carioca.

- Há uma tradição suburbana de coretos que foi vitimada pela urbanização que foi destruindo esse espaço de construção sociabilidade. A ideia é voltar a fazer do coreto um espaço de convívio, de encontro e de cultura. Tudo isso dentro do processo que visa reconstruir uma memória suburbana do Rio – afirmou o historiador.

A maioria dos 24 coretos do Rio de Janeiro estão na Zona Norte. Principalmente depois do processo de urbanização promovido pelo ex-prefeito Pereira Passos, a região tornou-se carente de atrações sociais ou de lazer. A consequência disso foi que os coretos passaram a ser verdadeiros pólos de agregação e sociabilidade. Viraram um símbolo, como também os bondes, ali pela primeira metade do século 20. 

Aqui, como tudo acaba em carnaval, os coretos também se estabeleceram como uma atração fortíssima daquela época. Resultado: estava estabelecido ali o laço entre os coretos e o povo suburbano. Laços que jamais foram desfeitos.